Padre Jonas Barbosa, vigário da Paróquia São José
O primeiro cântico apresenta Deus falando sobre Sua escolha de um servo que irá trazer justiça para a terra. Nele, o servo é descrito como sendo o agente da justiça de Deus, um “rei” que traz justiça tanto em seu papel real quanto profético, mas a justiça não se estabelece por proclamação e nem pela força. Ele não anuncia alegremente a salvação no mercado como os profetas são fadados a fazer, mas, ao invés disso, age silenciosamente e confiantemente para consolidar a religião correta.
O segundo cântico, escrito a partir do ponto de vista do servo, é um relato de seu chamado antes do nascimento por Deus para liderar tanto Israel quanto as nações da terra. O servo agora é retratado como o profeta do Senhor chamado e equipado para restaurar as nações para Deus.
Ainda assim, antecipando o quarto cântico, ele não tem sucesso. Levando-se em conta o primeiro cântico, seu sucesso não virá por meios políticos (“proclamado”) ou militares (“pela força”), mas se tornando a luz dos gentios. No final, sua vitória está nas mãos de Deus.
O terceiro cântico tem um tom mais sombrio, ainda que mais confiante do que os demais. Ainda que ele nos apresente uma descrição em primeira pessoa de como o servo foi surrado e abusado, aqui ele é descrito tanto como um professor e um estudante que segue o caminho que Deus lhe colocou à frente sem se deter. Ecoando o verso “Não se apagará nem será quebrado”, ele suportará o suplício com uma palavra. Sua justificação foi deixada nas mãos de Deus.
O quarto “cânticos do servo” começa em Isaías 52,13 ao 53,12. Não há uma identificação clara do “servo” neste cântico, mas uma leitura atenta permite que se deduza que a escolha de palavras do autor parece fazer referência a um indivíduo ou um grupo. Os que argumentam que o “servo” é um indivíduo “propuseram muitos candidatos com base no passado de Israel”.
O cântico declara que o servo intercede por outros, suportando as punições e aflições por eles. No final, ele é recompensado com uma posição exaltada. Além disso, também pela escolha de palavras do autor (“nós”, “nosso” e “eles”), é possível argumentar que o servo seria um grupo.
Argumenta-se que o “servo” seria, mais especificamente, a nação de Israel, que, apesar de ter pago suas dívidas, continuaria a sofrer em nome de outros (Isaías 7,1-11). Inicialmente, a avaliação do servo por “nós” é negativa: “nós” dele não fizemos caso e nada nele era atrativo para “nós”. Mas, com a morte do servo, a atitude de “nós” muda após o versículo 4, onde o servo suporta nossas enfermidades e nossas dores; pelas chagas do servo, “nós” fomos curados.
Postumamente, então, o servo é justificado por Deus. Por causa de suas referências aos sofrimentos do servo, muitos cristãos acreditam que este cântico seria uma das profecias messiânicas de Jesus e a “tradição judaica do servo foi por vezes identificada como uma figura messiânica do futuro.”