Marcos e Vanessa, da Pastoral Familiar
A família é sagrada. É um dom de Deus, criado para que nós vivamos um profundo encontro de amor. É uma experiência que nos permite, ainda que de forma incompleta, provar o infinito amor de Deus, o qual, na eternidade, experimentaremos em plenitude.
É verdade, porém, que a experiência do pecado fez com que, muitas vezes, nossos lares, que foram pensados pelo Criador como o lugar do amor, da consolação, do perdão, da partilha, se transformassem no lugar da tristeza, da discórdia, da frieza, da desunião. Muitas vezes pela dificuldade que temos de nos amar, como somos, outras por diversas outras dificuldades que as famílias do mundo de hoje experimentam.
A boa notícia é que por meio do sacrifício redentor de Nosso Senhor Jesus, que vence a morte, as nossas famílias podem ser concretamente renovadas. Diz o Salmo 42 que um abismo atrai outro. O abismo de nossos pecados abriram um abismo de sofrimento. Todavia, o misericordioso amor de Deus, aberto no calvário de Jesus, é um abismo no qual os outros dois são lançados.
Cristo quer fazer de nós novas famílias para que, pouco a pouco, encontremos o caminho do amor, que nos realiza profundamente. Em diversas passagens na Bíblia, Jesus demonstrou o carinho pelas famílias e o seu enorme desejo de fazer parte delas. “Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e ele comigo” (Ap. 3,20).
A oração é necessária para o bem de nosso lar. Dentre os seus benefícios talvez o primeiro e mais importante seja que ela nos aproxima de Deus, fonte de todo bem. Quem se encontra com Deus e experimenta a sua essência, que é amor, se torna, dia a após dia, capaz de manifestar esse amor aos outros, ainda que continuem imperfeitos como nós. Por isso diz a Palavra de Deus que “aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor.” (I Jo, 4, 8).
Em segundo lugar, a oração em família, longe de ser uma alienação, é para nós um combustível indispensável para que possamos enfrentar todos os desafios e sofrimentos, próprios do mundo de hoje e de nossa condição humana, sem desanimar ou nos desesperar. São João Paulo II nos ensina que “a oração não representa de modo algum uma evasão que desvia do empenho quotidiano, mas constitui o impulso mais forte para que a família cristã assuma e cumpra em plenitude todas as suas responsabilidades de célula primeira e fundamental da sociedade humana” (Familiaris Consortio, 62).
Jesus, diferente de muitos outros pregadores, jamais prometeu segurança e felicidade fácil. Mas garantiu que aqueles que construíssem sua casa na rocha, suportariam todas as dificuldades da vida (Mt. 7, 24-27). As dificuldades para a família são muitas e variadas, e certamente, vêm de todos os ângulos possíveis. Todavia, se estiver alicerçada em Deus, nem a chuva (que vem de cima), as enchentes (que vem por baixo) ou os ventos (que vem do lado) serão capaz de arruiná-la.
Além da oração individual e daquela realizada pelo casal, ocupa importante lugar a oração de toda a família. O hábito de ter alguma oração diária com os filhos, sejam antes das refeições ou antes de dormir, adaptada ao cronograma que temos no nosso lar, a recitação do Santo Terço, com alguma frequência, com especial dedicação à Santa Missa dominical, será, com certeza fonte de muitas bênçãos para a família. O Papa Francisco nos exorta: “É fundamental que os filhos vejam de maneira concreta que, para os seus pais, a oração é realmente importante. Por isso, os momentos de oração em família e as expressões da piedade popular podem ter mais força evangelizadora do que todas as catequeses e todos os discursos” (Amoris Laetitia, 288).
Podemos testemunhar os inúmeros benefícios que temos recebido por meio da oração, pois, não fosse Deus ocupar Seu lugar em nossas vidas, com absoluta certeza nossa família estaria absolutamente destruída em meio a grandes e muitos pecados, incompreensões e dificuldades. Por isso somos gratos a Deus e pedimos a graça de sermos fiéis e perseverantes.
É necessário um esforço constante, que, podemos garantir, vale a pena, pois, a graça de Deus vem em nosso socorro. É por isso que nos ensina o Catecismo a Igreja Católica que “a oração é um dom da graça e uma resposta decidida da nossa parte. Supõe sempre um esforço. Os grandes orantes da Antiga Aliança antes de Cristo, como também a Mãe de Deus e os santos com Ele, nos ensinam: a oração é um combate. Contra quem? Contra nós e contra os embustes do Tentador, que tudo faz para desviar o homem da oração, da união com Deus” (CIC, 2725).
Tenhamos coragem de fazer que esse difícil momento de pandemia, em que muitas pessoas estão reunidas por mais tempo em seus lares, seja uma oportunidade para que as nossas famílias se aproximem mais de Deus, introduzindo nelas, o hábito da oração.
Não permitiremos, assim, que nossa família seja dividida pelo inimigo. Lutemos para que, a partir da oração ela seja nova, renovada pelo poder de Deus, e abastecida para cumprir o projeto que o Criador Lhe deu neste mundo, até o fim. Afinal, família que reza unida permanece unida!