Igreja Católica leva barcos-hospitais e debate sobre justiça climática à COP30

A Igreja Católica iniciou nesta terça-feira (11) sua participação na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) com ações que reforçam o compromisso com a ecologia integral e a solidariedade global.

Pela manhã, o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cardeal Jaime Spengler, visitou os barcos-hospitais Papa Francisco e São João XXIII, acompanhado de bispos da África, Ásia e América. As embarcações, que iniciaram expedição no último domingo, oferecem serviços de saúde a comunidades ribeirinhas da Amazônia, em sintonia com a encíclica Laudato Si’, do Papa Francisco. O bispo de Óbidos (PA), dom Bernardo Johannes, destacou a importância do projeto.

“Na nossa diocese, o barco-hospital Francisco já realizou mais de 500 mil atendimentos em 18 municípios do Pará. Esse projeto salva vidas e leva cuidados de saúde a quem mais precisa. Trouxemos os barcos à COP30 para apresentar soluções concretas de atenção à saúde e mostrar alternativas diante das mudanças climáticas”, afirmou.

Mais de 80 profissionais de saúde atuam de forma voluntária nas embarcações, oferecendo exames laboratoriais, mamografias, tomografias, ultrassonografias, cirurgias de média complexidade, atendimentos odontológicos e oftalmológicos, entre outros serviços. A iniciativa é resultado de parceria entre a Igreja Católica, por meio da Fraternidade São Francisco de Assis na Providência de Deus, e o Governo do Pará.

Painel sobre Justiça Climática

À tarde, o bispo auxiliar de Olinda e Recife, dom Nereudo Freire Henrique, representou a Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM-Brasil) no painel Justiça Climática e a contribuição dos grupos de fé, realizado no estande do Brasil, na Zona Azul da COP30. O evento contou com a presença da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e de representantes de diversas tradições religiosas.

“Apesar das diferentes religiões, todos compartilham o olhar voltado à defesa da vida, especialmente dos mais pobres e do planeta. A fé sem ação não tem sentido, e é isso que nos move a cuidar da casa comum”, afirmou dom Nereudo.

O dia foi encerrado com o painel Resposta ao chamado das Igrejas do Sul Global sobre Justiça Climática, que reuniu bispos da América Latina, Ásia e África. Durante o encontro, foi divulgada uma mensagem conjunta das Conferências Episcopais desses continentes, defendendo a conversão ecológica e a solidariedade entre os povos como bases da justiça climática.

Barco-hospital Papa Francisco

Inaugurado em 17 de agosto de 2019, o barco-hospital Papa Francisco tem 32 metros de comprimento e conta com 20 tripulantes fixos e 10 voluntários em regime de rodízio. Sua estrutura inclui consultórios médicos e odontológicos, centro cirúrgico, laboratório, sala de vacinação, enfermaria e equipamentos como raio-X digital, mamografia, ecocardiograma e ultrassom.

Em expedições recentes na região de Aritapera e Urucurituba (PA), foram realizados mais de 5 mil atendimentos em especialidades como clínica geral, ginecologia, ortopedia, radiologia e odontologia.

Barco-hospital São João XXIII

Mais recente, o São João XXIII foi inaugurado em dezembro de 2024, no Amazonas. Com três andares e 14 leitos — sendo 10 de internação e 4 de recuperação pós-anestésica —, a embarcação dispõe de centro cirúrgico oftalmológico e dois centros gerais equipados para videocirurgias.

Em uma de suas expedições, foram realizados quase 7 mil atendimentos em seis dias, incluindo 1,1 mil consultas médicas, 3 mil exames, 101 cirurgias e 64 internações.

Parcerias e impacto social

As duas embarcações são fruto da articulação entre Igreja, poder público e sociedade civil. No caso do São João XXIII, parte dos recursos veio de convênios e destinações judiciais, evidenciando o potencial transformador do investimento social.

Os barcos-hospitais funcionam como instrumentos de equidade em saúde, alcançando populações isoladas e contribuindo para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, especialmente na redução das desigualdades.

O modelo, segundo a Igreja, representa um novo paradigma: uma saúde pública que se desloca até quem precisa, combinando inovação, logística e compromisso ético — um exemplo de esperança e cuidado com a Amazônia e com a casa comum.

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