Retratos de fé – um milagre gestado na dor

“Quando eu fui fazer o ultrassom não foi achado o batimento cardíaco, nem o feto e nem a costela, que é a primeira coisa que surge do neném.”

Para a atendente Áliki dos Santos, o diagnóstico não poderia ser mais avassalador. Segundo os médicos, embora houvesse uma bolsa amniótica, tratava-se de uma gravidez psicológica ou ter ocorrido um aborto espontâneo. Com o resultado do exame, realizado em 07 de fevereiro de 2022, os próximos sete dias seriam decisivos. Isso porque era necessário aguardar a expulsão natural da bolsa ou retirá-la por meio de uma cirurgia.

“Nenhuma mãe gosta de ouvir isso, né? Acho que foi o maior baque da minha vida. Eu só chorava e chorava. E todo mundo falando que era a melhor coisa que tinha acontecido pra mim.”

A história de Áliki não é diferente de tantas outras mulheres. Com apenas 15 anos, prestes a receber o sacramento do Crisma, ela deixou a Igreja Católica. Aos 17, ingressou em outra religião, ocasião em que conheceu o primeiro marido. Desde então ela não retornou para o catolicismo. Durante os quinze anos em que ficou afastada da igreja, teve outros dois relacionamentos que fracassaram, mas renderam frutos. Os filhos Davi e Clarice. Áliki conta que foi Davi, na época com sete anos, que a alertou sobre a terceira gravidez.

“Eu tava dando banho nele e ele tocou na minha barriga e falou assim — mamãe tem um neném aqui”.

A revelação espontânea do filho, que disse ter recebido a informação de um anjo, virou motivo de preocupação. Diante da fala inusitada de Davi, Áliki decidiu fazer um teste de gravidez cujo resultado dera negativo. Ela repetiu o exame quinze dias depois, após um sonho considerado revelador.

“Eu tava brincando com algumas crianças e chegou um homem todo de branco. E eu não vi o rosto dele, eu só vi os pés e as mãos. Ai ele me entregava um neném com uma veste toda branca e falava assim — estou te dando ela porque ela vai ser a sua companheira”.

Com o resultado do segundo teste positivo, Áliki é abandonada pelo namorado ao revelar a terceira gravidez. Ela conta que não conseguia se comunicar com o pai da criança e a aflição diante da rejeição desencadeou mais problemas.

“E aí quando eu acordei né, eu vi que estava com um muco todo preto, tentei contato com ele. Ele não me ajudou”.

No hospital, o tamanho anormal da barriga e os resultados obtidos no ultrassom, levariam Áliki à revolta. Confrontada pela mãe sobre ter abandonado a fé em Maria, ela dizia não querer saber de Maria ou Jesus.

“Hoje em dia, eu posso falar que, mesmo quando a gente acha que não tem fé, ela fica guardada dentro da gente”.

A conversa com a mãe ocorreu em uma noite, pouco antes de dormir. O que viria em seguida é comparável às palavras do presbítero e doutor da Igreja, São João da Santa Cruz. Dizia ele que “quanto mais é escura a noite para a alma, mais próxima está da luz”. Foi quando Áliki se ajoelhou na beira da cama em busca de ajuda da mãe de Deus.

“Se a Senhora estiver me escutando e entender o que eu estou passando como mãe, por favor me ajuda”.

Passados sete dias e sozinha, ela dirigiu-se ao hospital para repetir o ultrassom. A mãe não pode acompanhá-la para cuidar de Davi e Clarice. O namorado não compareceu. Áliki lembra que foi a segunda paciente a ser atendida. Dentro da sala de exame, seus pedidos à Nossa Senhora não cessavam. Foi quando um médico se aproximou.

“Mãe, você não quer ouvir o coraçãozinho da sua neném? E aí eu comecei a chorar”.

O parto fora complicado, com pressão alta, Áliki apresentou sangramento. Foi necessária uma ampla equipe médica frente às complicações envolvidas. Era uma quinta-feira, 22 de setembro de 2022. Ela deu à luz uma menina chamada Maria. O nome foi escolhido por Davi, o filho que disse à mãe que Maria estava em seu ventre.

Na Santa Missa das 10:30, realizada em 23 de novembro de 2025, Áliki apresentou seus filhos, Davi, Clarice e Maria à comunidade da Paróquia São José. Presidida pelo padre Weber Galvani, a ocasião marcou o retorno da família à Igreja Católica.

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